sábado, 16 de abril de 2011

E como fica o nosso futuro?

Parece ser consenso entre as pessoas que os jovens são o futuro da sociedade. Por mais que esse ideal assente quase que numa espécie de perspectiva ritualística, já que todo processo social de transmissão de nossos costumes, tradições e conhecimentos, começa desde cedo com a socialização das crianças e dos jovens para futuramente assumirem posições na sociedade, não é sem certa razão que se pode dizer que ele parece estar ficando distante de uma concretização. A sensação que dá é que cada vez mais nossos jovens estão se tornando incapazes de assumir compromissos perante a sociedade.



Esta última afirmação parece exagerada; quem sabe, um tanto moralista demais, ou ainda um velho dilema histórico. Talvez dizer que seja um velho dilema histórico, seja o mesmo que dizer que o exagero venha do moralismo inveterado nas gerações precedentes, pois desde sempre a juventude representou uma forma de ruptura para com o passado ou com as normas e regras das gerações anteriores. Todavia, acredito que as novas gerações estão encontrando cada vez mais formas de rupturas que não representam um ideal de mudança para com os problemas advindos do passado, como o representaram gerações como a dos poetas românticos inconformados com a nova realidade social ou como os jovens esquerdistas que se opunham ao autoritarismo do governo. Não! A maioria de nossos jovens de hoje parece não sonhar com um futuro melhor, não possui ideais, não quer saber de mudanças na estrutura da sociedade; simplesmente querem uma vida sem compromissos e regada ao sabor de festas, da embriaguez e da alienação provocada por entorpecentes.



O mais assustador de tudo isso é que toda essa alienação começa cedo, muito cedo, demonstrando o fato de que muitos deles sequer têm consciência do que estão fazendo, se é que se pode falar em ter consciência quando o assunto é, principalmente, a alienação provocada por entorpecentes. Este ponto, em particular, é que parece contrapor a ideia de que a preocupação com os jovens é um velho dilema histórico. Se antes a ruptura para com o passado representava mais um “atentado” contra a moral da época ou contra a estrutura social vigente, hoje, os entorpecentes parecem apenas representar, por um lado, um atentado contra a própria vida e, por outro, contra a existência humana, no sentido de uma existência que se tornou insípida, sem sentido. Ela parece ter se tornado um peso para nossos jovens; e os entorpecentes parecem ter se tornado uma forma de se suicidar aos poucos.



A sensação, exagerando o argumento, é a de que os entorpecentes vieram para preencher o espaço antes ocupado pela “adrenalina”, pela expectativa de se lutar por algo, o que sempre foi uma peculiaridade da juventude; nesse sentido, parece que a história em algum momento retirou de cena os ideais de mudança e em seu lugar deu aos jovens algo para preencher este vazio. É como se a “história” tivesse deixado de ser contada a eles; isso se observa pela indiferença com que eles tratam o passado da humanidade.



A explicação mais geral desse fato pode ser encontrada na forma imediatista das relações sociais, sobretudo, quando a ressignificação dos processos culturais é mediada pelo consumismo exacerbado. O acesso a diversos bens de consumo tornou-se o símbolo imediato de uma participação mais ampla da vida social; porém, a sensação de participar dela é sempre passageira, obrigando o consumidor a ter uma constante renovação de seus bens materiais para continuar tendo a sensação de fazer parte do grande banquete, em que, infelizmente, o ato de querer se saciar (o ato de consumir) torna o conviva mais insatisfeito.



Nesse sentido, uma sociedade que oferece, de um lado, mecanismos culturais de ressignificação da pessoa humana através do imediatismo do consumo, por outro lado, não oferece situações para que se construa uma percepção diferenciada da própria existência – e aqui estão os nossos jovens... A insatisfação se torna a ordem do dia e o consolo não advém de outras formas senão por outras vias também imediatistas. Diante disso, o prazer de viver se torna cada vez mais difícil de ser alcançado, sobretudo, porque o futuro não importa e, sim, somente o momento presente. O problema é que quem não se importa com o futuro, obviamente nele não se projeta. Assim, se não se constrói uma vida, na qual o indivíduo possa se ver no porvir, a vida não importa, não passa a fazer sentido; de que forma então se vive o presente? Alienado, embriagado, entorpecido...