sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sombras

Eu revisitei a sombra das árvores
Depois de ter visitado a sombra dos homens:
Quão mais afável é
E também mais simples de entender,
Pois nela se sente abrigado
E é só, e é tudo!
Na sombra dos homens se sente obrigado
E é de difícil entendimento:
E se é só, e se é tudo.

Mais um dia...

Tudo no seu devido lugar:
Aquela lembrança de um dia
Estilhaçada nalguma vidraça,
O sol sustentando-se no alto céu
E a vida migrando de um lado a outro.

Chegando a noite,
Ouve-se o murmúrio de um algo perdido,
E tudo fica parado
Como que esperando para recomeçar:

É nesse momento que os segredos são sussurrados
E os sentidos se dilatam
Para espreitar o silêncio
Divagando alguns passos na rua:
Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc...

Soneto em dor menor

E mesmo a placidez do velho monte,
O lento andar do fogo pelo lenho,
O rio que sempre passa sob a ponte,
O rochedo em que o tempo fez desenho,

Também me mostram o que não retenho
Da límpida palavra de uma fonte,
Do pensamento mudo do horizonte:
A voz que falta ao canto a que me empenho...

E quando o sol fulgura desde cedo,
E quando o vento traz outra estação,
É quando me conta o tempo um segredo

De que a voz faltará à minha canção
Como inda há de se apagar do rochedo
O que fez ele e o mais sem conclusão...